A Igreja de Lourdes é muito famosa e requisitada por todos os noivos da cidade de Belo Horizonte. Para conseguir uma data, uma sexta-feira, um sábado, ou uma segunda que seja, para realizar uma cerimônia de casamento, o casal deve marcar o grande dia seis anos antes.
O sucesso do lugar não se deve à longevidade das suas uniões, nem pela religião dos seus fiéis. Eram sua tradição e beleza, com três cúpulas, anjos barrocos e uma belíssima imagem de Nossa Senhora que deixava ela especial. Além de ser uma igreja onde sempre foram realizadas cerimônias da alta sociedade mineira.
As mulheres solteiras da cidade marcavam a data do seu próprio casamento sem ao menos ter um namorado. O Padre Nelson, alarmado com o ocorrido, protestou e determinou que só seria possível colocar o casamento na lista de espera somente com os nomes da noiva e do noivo.
Adriana marcou a data quando não precisava do nome do noivo. Até porque, nos seus seis anos de espera, ela ficou noiva três vezes. Como ela poderia marcar a data do seu casamento com o nome do noivo, se os noivados terminavam antes?
Mônica conseguiu casar depois de seis anos de noivado com João Antônio, mas o casamento só durou três meses. Agora ela não faz mais o “Em nome-do-pai” quando passa na frente da Igreja de Lourdes.
Rosalina, moça direita, já estava casada há mais de vinte anos e aquele dia, quando a porta da igreja se abriu, ao som da marcha nupcial, foi o mais feliz da sua vida. Ela entrou chorando e o “desgraçado do Luiz”, esperava no altar, ainda bêbado da despedida de solteiro.
Quando ele acordou, já estava casado e sem lembrar se participou da cerimônia. Ele praticamente emendou a despedida de solteiro na festa do seu casamento. Só faltou levar as convidadas da primeira noite.
Emanuel esperou seis anos de noivado e quatros horas no altar, sozinho, sem noiva, acompanhado apenas da sua família e seus padrinhos. A outra, a família da Cristina, também não foi para a igreja.
Não satisfeitas, as mulheres protestavam: “Quem consegue ficar seis anos noiva, nos dias de hoje, irmã Teresa?”. As solteiras passaram a marcar a data do seu casamento com nomes de noivos fictícios. Quando o padre percebia, a data era cancelada e a moça repreendida.
As mais espertinhas colocavam o nome do atual namorado – sem o seu conhecimento, é claro -, e depois, namoro desfeito, aparecia um outro noivo. Elas diziam que a irmã Tereza havia se enganado. Ninguém iria se lembrar de um nome seis anos depois.
Outras colocavam o nome de pretendentes, sem saberem que eram alvo das noivas de Lourdes, os rapazes se assustavam quando eram surpreendidos por mulheres ensandecidas, faltando dois meses para o casamento.
Renatinha conseguiu. Colocou seis anos antes o nome de Augusto Guilherme e faltando dois anos para a data do casamento, ela o conquistou e casou. As más línguas dizem que foi golpe da barriga.
Como não poderia faltar, havia também os casos em que duas noivas colocavam o nome do mesmo partidão. Os mais bonitos então, estavam na lista de muitas mulheres. Carlos Henrique estava na lista de quinze mulheres. Até que descobriram que ele era gay.
Norminha, 73 anos, realizou o sonho de uma vida inteira: encheu a igreja de amigos e familiares, decorou a casa do Senhor com rosas espanholas e contratou um concerto de cordas.
Quando entrou deslumbrante, toda de branco, virgem, sob a marcha nupcial e, com os olhos cheios d’água de felicidade, espantou a todos. Só ela sabia que não haveria noivo no altar.
Matheus Tapioca
Ilustração: Michel Neuhaus
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Matheus Tapioca