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CARNAVAL DE 1992

junho 15, 2009

Salvador, carnaval de mil novecentos e noventa e dois. Que eu me lembre, foi a primeira e única vez que fui para a avenida vestido de mulher. O figurino, o armário da senhora minha mãe: saia indiana, sutiã GG, maquiagem, purpurina, dois pares de meias para o sutiã GG e muito amor para dar.

Foi uma turma grande fazer o “make” na casa de um dos travestis. Não sei se você sabe, mas isso exige um certo teor alcoólico. Era um bando de homem bêbado, vestido de mulher, tentando se maquiar. Blush, sombra, lápis, pó e muita purpurina.

A nossa primeira vítima foi a primeira que passou: o Bobô, aquele ex-jogador que foi daquele ex-time chamado Bahia. Ele mesmo. Saiu completamente beijado com os piores batons do mercado e cheirando a perfume “espanta nigrinha” de tanto ser esfregado por nós.

Mexendo com Deus e o mundo, um carro de família (pai, mãe, dois filhos) buzina para a mulherada abrir caminho. Não deu outra: arrancamos o pai pela janela, o jogamos em cima do capô e passamos o mesmo corretivo que Bobô. A mulher ria, os filhos choravam e o pai se entregava.

Sair de mulher no carnaval é o passaporte para a alegria. Passa a mão na bunda do guarda, briga com patricinha, se alia aos gays e ainda consegue um beijo da gatinha que achou você um charme.

Saia indiana na altura do peito, sobre o sutiã GG, com dois pares de meias. Na cabeça um lenço, uma pena vermelha na orelha, batom vermelho “nos beiço”, purpurina pelo corpo e o perfume da faxineira. Puro glamour!

Até hoje não sei como cheguei em casa e quem eram os amigos que estavam comigo vestidos de mulher. Mas nunca vou esquecer que perdi as chaves e minha família inteira tinha viajado. Tentei empurrar a porta, em vão. Comecei a chutar, nada. Então parti para a agrestia: dei distância, corri e, com o calcanhar, dei a maior pancada na porta.

Ela continuou em pé, porém, como era oca, prendeu meu pé para dentro do apartamento. Meu pé entrou na porta e eu fiquei pendurado. Gritei o nome do meu vizinho até ele vir me ajudar: Seu Rozendo! SEU ROZENDO!!!

Agora imagine a expressão dele ao me ver pendurado na porta, vestido de mulher, às cinco horas da manhã. Seu Rozendo nunca mais me olhou do mesmo jeito.
Matheus Tapioca

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