Solange era alta, morena, seios fartos e quadril largo. Moça direita, Solange batia ponto na Igreja Nossa Senhora da Conceição, numa pequena cidade de Minas Gerais, para assistir às missas do Padre Batista, que era perdidamente apaixonado por ela.
A mais bela fiel da sua igreja, Solange não sabia, mas todas as missas eram dedicadas a ela. No confessionário, Batista sentia o perfume de Solange, ouvia os pecados da amada de olhos fechados e perdoava todos. Dava duas “Ave Maria” e um “Pai Nosso”, para não gerar desconfiança.
Batista sempre a convidava para ler trechos da Bíblia no altar. Fazia questão da participação dela na quermesse e no coral. Mas quando colocava a hóstia na boca entreaberta de Solange, o padre entrava em êxtase.
Até que, um belo dia, o Padre Batista encontrou o nome de Solange na lista de casamento da sua igreja. Aquilo o deixou pálido como uma folha de papel. Sem chão, sentou para não cair.
Depois que leu o nome dela e o de Josino Eduardo, o padre Batista fez o que pode para destruir o noivado. Na confissão, perguntava se o noivo a tirava do bom caminho, se era direito, se tentava passar a mão em seu corpo.
Mas ouvia com um certo prazer os pecados que ela praticava com Josino, escondida dos pais, no portão de casa. Aquilo alimentava suas fantasias e a sua dor. Tormento que o consumia noites a fio.
Finalmente, o padre Batista casou Solange e Josino Eduardo. E, naquela noite, às três horas da manhã, o sino da igreja começou a soar, misteriosamente, acordando toda a cidade.
Todos os moradores saíram de suas casas e foram de pijamas para a porta da igreja saber o que estava acontecendo. Sem paciência de esperar, Adamastor bateu na porta da igreja, chamou pelo padre, bateu com mais força e a porta se abriu lentamente.
Procurando pelo padre, Adamastor entrou na igreja e foi até a torre do sino, que não parava de tocar, para falar com Batista. Chegando lá, Adamastor não viu ninguém, gritou o nome do padre e quando olhou para cima, viu o Padre Batista enforcado na corda do sino.
Matheus Tapioca
Ilustração: Michel Neuhaus
Toda segunda uma nova crônica. Acompanhe.
Matheus Tapioca
Tags: ave maria, hóstia, igreja, padre, pai nosso, pecado, sino
dezembro 7, 2009 às 10:33 |
Bom dia!!!
Nossa que fim trágico….que padre bobo!!
Se ele ticesse falado comigo..eu daria muitas idéias a ele para esquecer ou pelo menos amenizar o sofrimento dele!! rsrs
Beijos!!
dezembro 7, 2009 às 10:56 |
caralho! isso é campanha anti celibato clerical, Tapis?
os padres tbm amam…
dezembro 7, 2009 às 12:15 |
Pensei tanta coisa para o padre fazer… até finais mega romanticos, como ele, no ápice da revolta religiosa, largar a batina, mas suicídio foi um final que não pensei enquanto lia curiosíssima até a última linha. Foi sombrio, mas gostei! Beijos, amigo!
dezembro 7, 2009 às 13:33 |
O padre já ouviu falar de revista masculina?! Já tentou a terapia de se trancar no banheiro e finjindo tomar uma chuverada??
Hehehehe
dezembro 8, 2009 às 19:29 |
Nossa, que padre pervertido, senhor. haha, ele preferiu deixá-la viver com fantasias a fantasiar uma vida com ela.É, sensato talvez.
dezembro 9, 2009 às 7:12 |
Tapi!!! Q depressao… Vc ta bem?
A pesar de tudo, adoro como vc escreve…
BEIJOS
dezembro 9, 2009 às 10:45 |
Como sempre lí até a última linha me deliciando com seu jeito maravilhoso de brincar com as palavras….não sei se é porque sou assim mesmo dramática mas imaginei logo ele pendurado nesta corda quando o sino tocou!
Beijocas Teu!
dezembro 9, 2009 às 11:32 |
João Ubaldo Rodrigues Hitchcock Tapioca.
dezembro 9, 2009 às 22:06 |
Essa história parece um final trágico pra uma música do Cascadura. Você conhece? Chama-se No escuro da capela (http://letras.terra.com.br/dr-cascadura/716398/).