O velho decidiu ir a uma Rave de três dias na Serra do Cipó (MG), chamada Earth Dance. O velho fez sua mochila com cachecol, gorro, luva, ceroula, lanterna, Band Aid, Aspirina, Tylenol, Fenergan, Voltarem, barraca para duas pessoas, sleeping bag, pára-quedas e a felicidade na cara porque era a sua primeira Rave.
O velho chegou à Rave às seis da manhã. Havia um camping gigante com mil e quinhentas barracas. Mais acima estava a mega pista de dança com milhares de pessoas dançando, gritando, pulando, dormindo, namorando, cheirando, fumando, engolindo, com piercings em todos os buracos da cara.
À esquerda estava o ti lout com dezenas de pufs, onde centenas de pessoas dormiam, umas sobre as outras e um DJ tocando (pra quem?). Além disso, havia uma cachoeira maravilhosa de 100m de altura. Tudo isso no mesmo lugar, no meio do mato, dentro de Minas Gerais.
O velho se achou ainda mais velho perto daqueles adolescentes de no máximo dezoito anos. O velho se tocou que não tinha mais idade para aquilo. O velho se isolou e descobriu que aquilo era o parque de diversões dos adolescentes de hoje. Mas o velho pensou: “Quer dizer que o Sr. está num Parque de Diversões? Muito bem. Então, divirta-se!”.
O velho dançou três dias e duas noites sem parar. O velho deu uma de pai para cima das crianças que não tomavam água. O velho teve uma alergia que ficou todo empolado e precisou tomar duas pílulas de Fenergan.
O velho viu gente comendo fogo, mulher virando pedra e pedra virando mulher. O velho ouviu pessoas falando no seu ouvido. O velho viu as plantas dançando. O velho viu uma velha de peito de fora. O velho viu a vulva da vovó.
Na volta para casa, com a mesma roupa que foi, o velho não conseguia andar. Foi parar no Pronto Socorro. Mostrou o pé esquerdo ao médico, que gritou: “Marcos. Corre aqui, pega a cadeira de rodas e leva este rapaz agora para fazer um Raio-X.”.
Resultado: gôta. Excesso de ácido úrico no sangue. Depois de passar três dias dançando e três horas no hospital, tomando medicação na veia, tirando sangue, andando de cadeira de rodas para cima e para baixo, o velho tem o seguinte diálogo com o médico de plantão:
– É surpreendente, mas você tem gôta.
– Mas o que há de surpreendente nisso, doutor?
– Isso é doença de velho.
Matheus Tapioca
Toda segunda uma nova crônica. Acompanhe.
Matheus Tapioca
Tags: DJ, drogas, earth dance, gota, piercing, rave, ti lout, trance
dezembro 21, 2009 às 13:12 |
hahahahahahhahahah que velho danado!
dezembro 21, 2009 às 13:22 |
desconfiando que o velhinho sapeca é você. safadeeenho!
dezembro 21, 2009 às 14:34 |
Muito bom! Cade a ilustra do Michel? Acabei de cobrar ele… hehehe
Abraço!
dezembro 22, 2009 às 20:24 |
Hahahah agradece ao véi pela prosa e nois si vê lá nu ti laundi (ou ti lound ou o quê foi mesmo que vc escreveu hahahaha)
dezembro 23, 2009 às 1:40 |
Gostei muito! sempre as melhores crônicas das segundas…
dezembro 23, 2009 às 12:06 |
muito boa!
mas me diga uma coisa: “ti lout” é uma recriação tapioquiana de “chill out”?
dezembro 23, 2009 às 14:28 |
Toda segunda?
Então tá combinado!
janeiro 4, 2010 às 13:41 |
A D O R E I ovelhoviuavulvadavovó!
Um super beijo
janeiro 5, 2010 às 17:08 |
Os ‘velhos’ que ficam jóvens quando se observa a sua competência diante da adaptação, tem apenas idade, nunca a burrice do estar perdido.
Se é o ‘tuchistum’ quem manda, podemos não gostar, podemos odiar, mas não podemos ser indiferentes.
‘Velho’ é quem já morreu e esqueceu de evoluir.
Abraços.
Márcio
http://recantodasletras.uol.com.br/autores/drmarciofunghi.